QUALIDADE DE VIDA, ACTIVIDADE E APTIDÃO FÍSICA EM IDOSOS PARTICIPANTES E NÃO PARTICIPANTES EM PROGRAMAS REGULARES DE ACT. FÍSICA

19-05-2010 13:27

 Este estudo teve como principal objectivo estudar comparativamente as relações que se estabelecem entre a aptidão física, qualidade de vida e o nível de actividade física de participantes e não participantes em programas de actividades físicas regulares. A amostra compreendeu 110 sujeitos divididos em dois grupos: o grupo experimental que estava envolvido num programa de actividade física regular “Saúde em Movimento”; e o grupo de controlo que não estava envolvido em nenhum programa regular de actividade física. Foi avaliada a qualidade de vida dos indivíduos através da versão portuguesa do SF-36, a aptidão física através do Sénior Fitness Test de Rikli e Jones e, o nível de actividade física através do uso de acelerómetros. O grupo experimental apresentou resultados superiores de qualidade de vida, aptidão física e de níveis de actividade física. Concluímos que a participação em programas de actividade física estruturados e orientados, nomeadamente no projecto “ Saúde em Movimento” permitem uma melhor qualidade de vida, uma melhoria da aptidão física e melhores níveis de actividade física.

 

INTRODUÇÃO

Nos últimos 40 anos a população idosa tem sofrido um aumento significativo, ocupando um papel cada vez mais fundamental na estrutura demográfica mundial, prevendo-se que o número de idosos aumente e ultrapasse o número de jovens entre o ano de 2010 e 2015 (Melo, 2002).

As alterações decorrentes do processo do envelhecimento, nos domínios biopsicossociais, põem em risco a qualidade de vida do idoso, por limitar a sua capacidade para realizar, com vigor, as suas actividades do quotidiano e colocar em maior vulnerabilidade a sua saúde. (Alves et al., 2004).

Cada vez mais é enfatizada a necessidade da actividade física constituir parte fundamental dos programas mundiais de promoção de saúde, em grande parte pelas evidências epidemiológicas do efeito positivo de um estilo de vida activo, e o envolvimento activo dos indivíduos em programas de actividade física e exercício na prevenção e minimização dos efeitos deletérios do envelhecimento (Matsudo, 2006).

Nos últimos anos, atribui-se cada vez mais importância à dimensão qualitativa da actividade física, ou seja, ao modo como esta pode afectar positivamente as dimensões subjectivas da natureza humana, como sejam o bem-estar e a qualidade de vida (Mazo et al, 2001).

O exercício e a actividade física parecem oferecer um conjunto de possibilidades promissoras no sentido do aumento da qualidade de vida relacionada com a saúde. O idoso poderá sair em vantagem do processo de envelhecimento se for física, intelectual e socialmente activo, envelhecendo assim de uma forma óptima, encontrando substitutos para as actividades que teve de abandonar e para as amizades que perdeu ou vai perdendo (Caetano, 2004). Os programas de actividade física poderão resultar em melhorias sobre a capacidade física e a qualidade de vida dos idosos, beneficiando de um melhor aproveitamento dos seus dias, após a retirada da actividade profissional.

Assim, o objectivo deste estudo foi investigar o impacto do exercício físico regular na aptidão física e na capacidade funcional e qualidade de vida relacionada com a saúde em indivíduos com mais de 65 anos.

 

AMOSTRA

A amostra compreendeu 110 sujeitos. Os indivíduos foram divididos em dois grupos: o grupo experimental (GE, n = 57) que foi submetido a um programa de actividade física “ Saúde em Movimento”; e o grupo de controlo (GC, n = 53) que não frequentou qualquer programa regular de actividade física.

O Programa de actividade física (“Saúde em Movimento”) foi realizado duas vezes por semana por professores de Ciências de Educação Física e Desporto durante 10 meses (Outubro a Julho de 2009). As sessões tiveram duração de quarenta e cinco minutos, incidindo tanto em aspectos psicomotores, noção corporal, coordenação, equilíbrio, como condicionais, trabalho de força muscular, resistência, flexibilidade e velocidade de reacção. Não se verificaram acidentes ou outro tipo de complicações médicas e medicamentosas directamente relacionadas com o programa.

 

QUALIDADE DE VIDA

A qualidade de vida relacionada à saúde foi avaliada pela versão curta do instrumento SF-36 (MOS SF-36-Medical Outcomes Study, Short Form -36, Health Survey). As dimensões que constituem este questionário são: Função Física; Desempenho físico e emocional; Percepção de Dor Corporal; Saúde Geral; Vitalidade; Função Social; Saúde Mental.

 

APTIDÃO FÍSICA FUNCIONAL (FUNCTIONAL FITNESS TEST)

Todos os sujeitos realizaram as seis provas que compõem o Funcional Fitness Test para a avaliação da aptidão física: força de membros inferiores; força de membros superiores; resistência cardiovascular; flexibilidade dos membros inferiores; flexibilidade dos membros superiores; agilidade; resistência aeróbia; composição corporal (IMC).

 

AVALIAÇÃO DA ACTIVIDADE FÍSICA – ACELERÓMETROS

Para a avaliação do nivel actividade física foram utilizados os medidores de actividade do modelo GT1M Actigraph do tipo biaxial.

 

PROCEDIMENTOS ESTATÍSTICOS

No tratamento dos dados foi usada a aplicação SPSS (Statistical Package For the Social Sciences) for Windows versão 15.0.

Para comparar as médias do grupo experimental e do grupo de controlo em relação à actividade física, aptidão física e qualidade de vida, foi aplicado o Test T Student. Todos os testes foram calculados para um p<0,05, isto é com um nível de confiança de 95%.

 

RESULTADOS

O SF-36 apresentou boa consistência interna, quando analisada questão a questão e também, nas correlações entre dimensões respectivamente 0,911 e 0,865.

Através da TABELA 1, podemos analisar os dados dos diferentes domínios do questionário SF-36 para ambos os grupos pela média obtida para cada dimensão do questionário. De acordo com a tabela, é possível constatar que o grupo praticante de actividade física obteve resultados superiores e estatisticamente significativos em todos os domínios do questionário exceptuando o domínio da dor corporal (p>0,05).

 

TABELA 1 – Questionário SF-36.

 

Média (%) ± dp

Nível de Significância (p)

Saúde mental

Grupo Experimental

74,39 ± 19,59

0.003

Grupo de Controlo

63,62 ± 16,85

Desempenho Emocional

Grupo Experimental

91,23 ± 27,11

0,140

Grupo de Controlo

82,33 ± 34,96

Função social

Grupo Experimental

89,03 ± 16,38

0,000

Grupo de Controlo

73,82 ± 20,69

Vitalidade

Grupo Experimental

68,95 ± 17,92

0,050

Grupo de Controlo

63,11 ± 12,68

Saúde geral

Grupo Experimental

70,68 ± 15,90

0,000

Grupo de Controlo

53,40 ± 18,16

Dor corporal

Grupo Experimental

72,54 ± 18,63

0,208

Grupo de Controlo

68,02 ± 18,84

Desempenho Físico

Grupo Experimental

91,23 ± 21,39

0,005

Grupo de Controlo

75,47± 34,84

Função física

Grupo Experimental

86,14 ± 12,36

0,000

Grupo de Controlo

54,43 ± 22,07

 

Através da TABELA 2 podemos analisar os dados referentes à bateria de testes que avaliam a aptidão física. Em todos os parâmetros avaliados o grupo experimental obteve resultados significativos mais fortes comparativamente ao grupo de controlo (p=0,000 para todas as variáveis à excepção do levantar e sentar na cadeira em que p=0,002).

 

TABELA 2 – Avaliação da aptidão física – Functional Fitness Test.

 

Média ± dp

Nível de Significância (p)

Levantar e sentar na cadeira

(segundos)

Grupo Experimental

17 ± 3,29

0,002

Grupo de Controlo

15 ± 3,26

Flexão do antebraço

(nº de repetições)

Grupo Experimental

19,72 ± 3,71

0,000

Grupo de Controlo

16 ± 2,97

Sentar e alcançar

(cm)

Grupo Experimental

3,67 ± 8,27

0,000

Grupo de Controlo

-5,04 ± 7,71

Alcançar atrás das costas

(cm)

Grupo Experimental

-4,53 ± 8,84

0.000

Grupo de Controlo

- 10,21 ± 7,62

Levantar, caminhar 2,44 m e sentar

(segundos)

Grupo Experimental

5,05 ± 0,75

0,000

Grupo de Controlo

6,04 ± 1,08

Dois minutos de step

(nº de steps)

Grupo Experimental

221,89 ± 32,60

0,000

Grupo de Controlo

150,64 ± 31,36

Seis minutos a andar

(m)

Grupo Experimental

602,13 ± 63,304

0,000

Grupo de Controlo

495,92 ± 61,59

 

Pudemos observar que tanto os indivíduos do grupo experimental como os do grupo de controlo, passam grande parte do tempo em actividade sedentária, contudo e comparando o tempo passado em actividade sedentária entre os dois grupos, estes são superiores para o grupo de controlo. No que respeita à actividade física ligeira e moderada são os indivíduos do grupo experimental que têm uma média superior e com diferença significativa (p=0,009 e p=0,000, respectivamente). O tempo gasto pelos participantes em actividades intensas e muito intensas é mínimo, quase irrelevante, para ambos os grupos, não havendo diferença estatisticamente significativa.

 

TABELA 5 – Tempo total em actividade física.

 

Média ± dp

Nível de Significância (p)

Actividade física sedentária

Grupo Experimental

4086,39 ± 428,84

0,001

Grupo de Controlo

4372,58 ± 428,78

Actividade física ligeira

Grupo Experimental

1138,18 ± 413,21

0,009

Grupo de Controlo

929,09 ± 412,06

Actividade física moderada

Grupo Experimental

144,65 ± 114,95

0,000

Grupo de Controlo

62,72 ± 61,11

Actividade física intensa

Grupo Experimental

0,65 ± 4,38

0.396

Grupo de Controlo

0,13 ± 0,59

Actividade física muito intensa

Grupo Experimental

0,12 ± 0,93

0,337

Grupo de Controlo

0,00 ± 0,00

Valores expressos em minutos

CONCLUSÃO

Considerando os objectivos do presente estudo, e dentro dos seus limites técnicos, metodológicos e amostrais, pode-se concluir que os idosos que praticam actividade física regular têm uma melhor qualidade de vida, obtendo valores médios mais elevados e estatisticamente significativos nas dimensões Saúde Mental, Função Social, Vitalidade, Saúde Geral, Desempenho Físico e Função Física, em relação ao grupo de idosos que não pratica actividade física regular. Os idosos praticantes de actividade física regular possuem uma melhor aptidão física e um melhor nível de actividade física do que os idosos não praticantes de actividade física regular.

Conclui-se que existe relação estatisticamente significativa entre o nível de actividade física e a qualidade de vida, entre o nível de actividade física e a aptidão física e entre a aptidão física e a qualidade de vida.

Em síntese, os resultados obtidos pelo presente estudo permitem concluir que, os idosos praticantes de programas formais de actividade física orientados e estruturados por profissionais da prescrição da actividade física com elevado rigor e qualidade, possuem melhores índices de qualidade de vida, mais aptidão física e níveis mais elevados de actividade física, logo MAIS SAÚDE, pelo movimento.

 Versão Completa deste estudo:

Tânia Gomes -Qualidade de vida, act. e aptidão física em idosos participantes e não participantes em programas regulares de act. física.pdf (649,6 kB)

BIBLIOGRAFIA

Alves, Roseane Victor; Mota, Jorge; Costa, Manoel da Cunha; Alves, João Guilherme Bezerra – Aptidão física relacionada à saúde de idosos: influência da hidroginástica, Revista Brasileira de Medicina do Esporte, vol.10, nº1, Niterói, 2004. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbme/v10n1/en_03.pdf

 

Caetano, Luís Miguel - Prescrição de actividade física para idosos, Horizonte, Vol.20, Nº 116, 2004.

Mazo, Giovana Zarpellon; Lopes, Marize Amorim; Benedetti, Tânia Bertoldo – Actividade Física e o Idoso: concepção gerontológica, Edição Sulina: Porto Alegre, 2001.

 

Ferreira, P. L., Criação da Versão Portuguesa do MOS SF-36, Parte I – Adaptação Cultural e Linguística, Acta Médica Portuguesa, 2000.

 

Matsudo, Sandra Machecha – Actividade física na promoção da saúde e qualidade de vida no envelhecimento, Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v.20, nº5, São Paulo, 2006.

 

Mazo, Giovana Zarpellon; Lopes, Marize Amorim; Benedetti, Tânia Bertoldo – Actividade Física e o Idoso: concepção gerontológica, Edição Sulina: Porto Alegre, 2001.

 

Melo, Filipe; Barreiros, João - A terceira idade, uma população de peso a nível social. In: Boletim da Sociedade Portuguesa de Educação Física, Sociedade Portuguesa de Educação Física, nº 23 de Agosto, 2002.

 

Pestana, Maria Helena; Gageiro, João Nunes – Análise de Dados para Ciências Sociais – a complementaridade do SPSS, 2ª edição, Edições Sílabo, Lisboa, 2000.

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